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O Oitavo Capítulo de O Arquimago transporta o leitor para o momento decisivo em que Oliver, nosso personagem principal, se depara com a escolha mais importante de sua vida.
Ronaldo Barbosa Jr
8/20/202425 min read
Uma dor aguda no pescoço foi o que sentiu quando o som do despertador lhe acordou. Ergueu-se desnorteado, levando as mãos a sua nuca. Aquilo definitivamente não pode ter sido um sonho, pensou, recordando-se do que havia passado. Olhou pela janela de seu quarto para ver se haviam marcas de destruição do lado de fora mas tudo estava em perfeito estado.
– Um sonho! Só podia ser um sonho! – cantarolou. – A água desse lugar deve tá cheia de química, viu!
Sentiu-se extremamente criativo até que um olhar mais atento para sua estante de livros o fez soltar um sonoro:
– QUE INFERNO!
Já passavam das onze horas da manhã do dia 10 de janeiro e Oliver havia perdido o horário do curso e não era para menos. Seus livros estavam tomados por seres peludos minúsculos com olhos grandes e aquilo só não era pior do que as serpentes incandescentes em seu banheiro. De qualquer forma, superado o trauma da manhã, ainda teria que ir até a secretaria da escola para tentar novamente entregar seus documentos e finalizar o processo de matrícula. Imprimiu tudo novamente, chamou um veículo e, com o trânsito fluindo bem, em alguns minutos já estava em seu destino. Para sua surpresa, os portões do prédio estavam fechados devido a onda intensa de frio que abateu a região de forma repentina, fazendo com que todas as aulas tivessem sido suspensas naquela manhã.
– Ah, qual é! – enfureceu-se ao ler o comunicado fixado na portaria.
Enquanto pegava números para informações, ouviu uma insistente buzina de carro soar atrás de si, o atrapalhando. Vinha de um carro luxuoso, semelhante a um protótipo
alemão. O vidro do lado do passageiro estava ligeiramente baixo, de modo que Oliver pode ver quem o dirigia. Encarando-o por debaixo de óculos escuros estava o homem que explodiu o portão de sua casa no dia anterior. Então não foi delírio ou sonho... foi real!
– Vai ficar aí o dia todo? – perguntou o homem em tom de deboche.
Oliver não respondeu, apenas o encarou da mesma forma que fez com as criaturinhas parecidas com aranhas que brincavam na neve. Mesmo não parecendo sensato arriscar um contato imediato, seguiu naquela direção, entrou no veículo sem dar uma única palavra e acomodou-se no banco de couro cor clara. Fechou sua porta e respirou fundo, deixando o aroma reconfortante de carro novo aliviar suas tensões.
Saíram velozes pelas ruas da região e por um longo tempo permaneceram em silêncio. Oliver segurava a ansiedade. Queria que aquele homem começasse o diálogo, temia falar algo idiota e acabar acordando novamente no dia seguinte com o despertador tocando e com a dor de um baque no pescoço. Foi só quando o carro passou pela placa que indicava a autoestrada que Oliver resolveu se adiantar.
– Desculpa pelos meus modos ontem. – falou, olhando fixamente para o rosto do homem que era de fato muito elegante em seu terno grafite. Tinha uma expressão marcante e daquele ângulo, por trás dos óculos, podia ver os olhos castanhos escuros sempre estreitos, em total concentração. Seus cabelos eram bem aparados, pretos, com alguns fios grisalhos. Imaginou que era uma pessoa chegando perto dos quarenta anos. Oliver voltou a olhar para fora da janela do carro e continuou. – Quem é você e pra onde a gente tá indo?
– É cedo para dizer quem sou, e complicado. Também não vamos a lugar nenhum que você conheça. – disse o homem calmamente.
– Certo, era você ontem… – murmurou Oliver, se segurando para não vociferar e parecer mais uma vez arrogante, voltando seu olhar ao rosto do homem que mantinha-se focado na pista. – Afinal, o que eram aquelas coisas? O cara com os cachorros e aquela coisa que me seguiu até em casa? E essas porrinhas que estão em todo maldito lugar!?
– Cara com cachorros, é? Esse eu não sei..., mas de modo vulgar, o outro ser que lhe seguiu é chamado de “Vampira De Almas”. – explicou tranquilamente. – Ela o seguia porque estava próxima de seu corpo quando você atravessou a barreira que divide a nossa realidade da realidade delas. Você a trouxe para este plano. Sem querer, mas trouxe. Ela conseguiu usar a fresta que você acidentalmente abriu.
– Nossa realidade? Uma fresta que eu abri? Eu... não entendi o que isso quer dizer. Como não a enxerguei quando voltei pro beco? – Oliver parou, pensou mais profundamente e continuou. – Quer dizer, eu deveria ter visto algo, certo?
– Ela estava lá, mas naquele momento os seus olhos não estavam preparados para vê-la nesta realidade, plano físico, mundo, ou universo que você conhece... Entende? Seus olhos ainda estavam passando por um processo de adaptação, se acostumando com a presença mágica. Por isso começou a ver os espíritos menores, essas pequenas coisinhas, que se não tiver cuidado, podem lhe causar problemas.
– Tipo... então, eu não tô louco mesmo? Alguma coisa nessa água de gosto estranho daqui deve ter me afetado, sabe... ou... então... pela sua cara... Realmente estamos falando de coisas sobrenaturais, certo? – Oliver lhe fitou em um misto de curiosidade e ansiedade. – Não tô acreditando. Eu sou tipo o menino do “Iluminado”? O maluco do “Sexto Sentido”?
– Um pouco mais que isso, e ver gente morta será o de menos. Mas não tenha pressa em saber. Em breve, para o bem ou para o mal, isso fará parte de sua vida – disse o homem, olhando pelo retrovisor do carro e percebendo que um grande caminhão vinha em alta velocidade e pedia passagem. – Veja, já estamos chegando!
Oliver voltou-se rápido para a janela do carro para ver onde estava e logo percebeu que não conhecia o lugar. Era uma autoestrada muito movimentada, margeada por uma densa floresta e alguns ramais que furavam a mata.
– Ali está a entrada! – empolgou-se o homem, pisando com força no acelerador. – Se segure, vamos sacudir um pouco agora.
Subitamente o carro fez uma curva para o outro lado da pista, quase raspando a frente de um caminhão-gaivota, de modo que a morte lhe pareceu certa. Esse cara é louco?, pensou o garoto, que se espremia no banco imaginando se os air-bags daquele veículo o salvariam. Entraram em um ramal, barrento e estreito, cercado de árvores que de vez em quando tinham seus galhos quebrados quando um choque leve com o carro era inevitável. Continuavam rápidos, com o carro dando saltos e sacudindo muito, e foi dessa forma por algum tempo até que pegaram a direita após uma bifurcação, separada pela vegetação e uma estranha estátua velha e repleta de musgo, mas que tinha a forma de um sapo gordo com sorriso largo e olhos esticados. Dali, a estrada findou em uma mata, furada apenas por uma estreita trilha.
– Nós descemos aqui. – avisou o homem, parando o carro e logo abrindo sua porta. – Temos de continuar o caminho a pé.
Foi um alívio, de certa forma, mas a quantidade de seres na floresta era maior. Oliver o seguiu de perto em uma caminhada pela mata a frente. Observava tão atentamente os movimentos daquela figura, tão compenetrado em sua obsessão, que quando deu por si já não estavam pisando em solo arenoso coberto de folhas. No chão, paralelepípedos faziam caminho a um paredão vivo. Literalmente vivo!
A estrutura coberta de folhas subia até sete metros de altura e suas extremidades se perdiam por entre as margens da mata. Ao se aproximarem ainda mais, constataram, no centro da construção, os galhos que a cobriam se torcerem, as folhas se afastarem e uma entrada surgir como uma espécie de túnel muito escuro, para onde o vento era sugado, carregando as folhas secas que estavam por todo o lugar. De lá, elas retornavam em meio a um silvo, como se a passagem respirasse. Olhos se abriram. Vagalumes eram suas pupilas. Logo a estrutura era como um grande rosto verde, repleto de insetos e espíritos menores.
– A princípio pode ser difícil compreender, mas assim como esses pequenos seres ao nosso redor, o que vê a sua frente nenhum humano comum pode ver. Lhe trouxe a esta passagem porque inevitavelmente você deverá fazer uma escolha, a mais importante da sua vida. Mas não antes de conhecer o motivo de você estar aqui – Disse o Homem calmamente, enquanto o vento jorrava folhas que cobriam seus pés.
Por um instante, o homem parou e respirou profundamente, como se saboreasse o frescor que pairava no ar de lugar puro. Era como se quisesse passar a impressão ao garoto de que aquele momento era especial e, de fato, soava como tal. Retirou os óculos do rosto e os guardou delicadamente por entre um dos bolsos do terno e continuou.
– Você está aqui porque não é um ser humano como os demais. Nem mesmo pertence a esta raça. Está aqui porque, por esse mesmo motivo, corre perigo. – falou olhando profundamente em seus olhos, parecendo enxergar além do permitido. – Não somente isso. Você está aqui para saber, finalmente, algo que as pessoas comuns não teriam como entender, pois elas simplesmente não podem sentir. Diferente de você que a partir do momento em que olhou para esta parede, você sentiu, você entendeu! – prosseguia. – Ouviu sua voz interior gritar para lhe lembrar de que, em algum momento da sua vida, já se questionou sobre haver algo no mínimo estranho com o mundo dos homens, sobre algo que se esconde. Você nunca deu atenção a essa voz, mas vendo isso... – disse, apontando para a passagem. – Vendo isso, passou a ter certeza de que a voz estava certa.
“Perguntas. Sim, eu sei, serão muitas. Sua natureza o fará perseguir as respostas, mas apenas quando deixar para trás o que achava conhecer e, então passar desse ponto, terá as chaves da verdade. – Enquanto falava, gentilmente retirou uma folha seca presa no cabelo de Oliver e lançou-a no ar, o que, para a surpresa do garoto, fez irradiar uma luz dourada que transformou-se em dezenas de luzentes borboletas que voaram em direção aos céus. – Sua mente irá abrir para um novo universo, um que muitas pessoas dariam sua alma para conhecer. Porém, preciso alertá-lo que o caminho pode ser sombrio, tortuoso, traiçoeiro. O menor descuido talvez o faça desmoronar em um abismo do qual você nunca mais irá sair. Por isso não posso forçá-lo a entrar, a escolha deverá ser sua.”
“Mas aviso que se não despertar agora, ou melhor, se não passar desse ponto e conhecer o mundo que lhe foi dado a oportunidade de conhecer, terá uma vida muito curta. – deu um passo à frente e segurou-o pelo ombro. – O mundo humano já começou a ficar perigoso para você, para seus olhos! Você estará à mercê da sorte minuto após minuto, mas a escolha é somente sua. A única dica que posso lhe dar sobre a minha própria experiência deste lado do véu é que vivi situações incríveis e outras de que não gosto de lembrar, e mesmo assim de nada me arrependo. Às vezes gostaria de estar apenas sentado em uma poltrona comum, assistindo a um filme idiota de ficção, achando que certas coisas só existem na tevê, mas logo penso que isso perderia a graça em instantes”.
Oliver passou algum tempo analisando aquelas palavras e observando a entrada assustadora. Quase perguntou se aquele cara havia fumado algo estragado ou se estava fazendo cena para tentar enganá-lo e roubar seus órgãos, mas toda aquela demonstração de poder lhe convenceu. Ter seus órgãos roubados pelo tráfico era algo que acontecia no mundo real, mas aquilo que acontecia à sua frente era completamente surreal e, de alguma forma, lhe soava familiar. Não, pior: soava plausível e completamente aceitável. Sem saber explicar como, uma sensação excluía de si a surpresa e lhe preenchia inteiro de pura ansiedade e esperança.
– Quer saber... Não sei dizer exatamente o que é essa ideia na minha cabeça, mas ela só aponta para dentro da boca dessa coisa. Não tem nada a ver com curiosidade. Também não tem a ver com o medo de ter uma vida curta na minha realidade. – disse Oliver, firmemente, ignorando o quão dramático poderia ser cruzar aquele túnel dos horrores. Quando começou a dar passos firmes naquela direção, sentiu a mão novamente em seu ombro e voltou-se para o homem. – É outra coisa. E eu não sei dizer... simplesmente não sei.
– Isso é a sua natureza, Oliver. Ela motiva sua decisão. – o homem soltou um sorriso que pareceu quase aterrorizante. – Logo estará pronto para conhecer os mistérios do fluxo mágico, mas, por hora, não faça nenhuma pergunta idiota ou mesmo fale, apenas me escute:
“O portal que vê adiante separa esta realidade humana, de uma outra que é, sem dúvida, fascinante e bem perigosa. Você deverá se esforçar para aceitar o que acontece lá. Sua crença será fundamental. – segurou a cabeça de Oliver com as duas mãos, como se o examinasse, em seguida o largou. – É, talvez esse será o menor dos nossos problemas.
Entendendo quase nada, Oliver fez um aceno com a cabeça enquanto seu rosto estampava uma pergunta esdrúxula. Antes que pudesse externar esse sentimento de dúvida, o homem lhe apressou e logo caminharam rumo ao túnel, com a escuridão os tomando ao fechar do paredão às suas costas. O vento continuava a carregar folhas e poeira para o seu interior e a sensação era a de estar frente a um aspirador gigante. Num misto de dúvida, medo, excitação e curiosidade, Oliver se deixou levar.
– Preste muita atenção. – Avisou o homem. – Assim que nós cruzarmos o túnel, haverá um saguão e, após isso, outro túnel. Antes de entrarmos neste último, quero que respire fundo e prenda sua respiração, feche seus olhos, tape os ouvidos e tente privar seus sentidos até andarmos ao seu final. Não terá problemas se fizer assim.
Por cerca de dois minutos continuaram o caminho com a penumbra pairando. Foi só então que notou o cheiro estranho. Clareando malmente o lugar com o seu smartphone, observou atentamente seus próprios pés que eram cobertos por uma gosma esquisita. Quando chegaram ao saguão do qual o homem falou, percebeu então do que se tratava quando buscou as paredes e elas pareciam feitas de carne.
– Estamos num estômago?! –Ele perguntou assombrado ao perceber sucos gástricos devorando estruturas de cimento e metal do que parecia ser um saguão de espera. Haviam bancos velhos, musgos, galhos, uma fonte esquisita, pequenas criaturas espirituais e, principalmente, aquela coisa asquerosa e transparente tal qual uma baba.
– Então é assim que se parece pra você? - O Mago lhe questionou debochado – Não ligue para isso pois é agora, Oliver! – alertou, e Oliver fez o dito necessário. Tapou os ouvidos, segurou a respiração, fechou os olhos e prosseguiu. Entraram no novo túnel e imediatamente ele percebeu ser mais úmido que o anterior. Aquela coisa gosmenta vinha aumentando de nível a medida que andava e estava prestes a alcançar a altura de seu peito quando finalmente foi cuspido para fora do local. Imediatamente, o vento bateu no rosto deles e fez Oliver quase esquecer de respirar perante visão tão exuberante. – Já pode soltar.
– Pra que isso? – indagou após uma longa golfada de ar. – Tô só gosma!
– É protocolo para o lugar entender que você está aqui a convite de um mago. Se passasse pelo segundo túnel sem privar tais sentidos, duas coisas poderiam ter ocorrido: ou você seria comido ou esse portal às nossas costas se fecharia eternamente para você. Você não iria mais enxergar o túnel, ficaria preso neste território e nunca mais veria o seu mundo, pelo menos não nessa forma em que está. É o que acontece com humanos desavisados que por má sorte ultrapassam a película das realidades. A maioria acaba sendo devorada. Claro que eu não deixaria acontecer isso com você! Eu iria protegê-lo até que completasse sua jornada para se tornar um mago, e antes que você possa perguntar, sim, um mago.
– Um MAGO? – perguntou surpreendido. Olhou para trás quase que no mesmo instante para ver se o portal negro do túnel continuava ali, percebendo aliviado que a estrutura do prédio desse lado não era muito diferente da parte oposta. – Então você é um desses magos? Não parece... – Oliver comentou, observando com maior atenção o homem à sua frente, sentindo uma estranha vontade de rir do que achava impossível não ser uma piada, mas se segurou e preferiu abrir a mente e absorver o máximo de informação possível antes de julgar o desenrolar dos fatos. – Ok. Olha onde a gente tá, né? Talvez você seja isso mesmo!
Adiante, o cenário era preenchido com pradarias de capim verde um tanto alto, o que fez Oliver lembrar de Dredrórios, talvez porque pode ver uma floresta densa ao longe dos campos. O céu estava limpo e o sol brilhava sem preocupação junto a uma brisa leve e refrescante que chiava sobre o capim. Subindo pela grama na companhia do mago, viu ao longe algumas casinhas que eram muito separadas umas das outras e, mais adiante, uma cidadezinha que subia inclinada ao pé de um monte, como uma bela favela que engolia o morro. Havia muitos moinhos de vento, tantos que Oliver não ousou contar, e também muitas estátuas de divindades que ele desconhecia, espalhadas a esmo ao longo daquela vastidão verde.
– Como conseguiram esconder isso dos livros de geografia? – Oliver perguntou com entusiasmo, notando o colorido e a arquitetura engraçada das casas. – E que lugar é esse? O que são todas essas estátuas?
O mago não respondeu. Ao invés disso, andou para um pouco mais à frente de Oliver e pulou por cima de um pequeno riacho. Imediatamente, como em um truque de mágica, o homem já não estava de terno quando tocou o chão, mas sim com uma veste longa e escura, semelhante a que Oliver o viu usar na noite passada. Sob as mangas, braceletes de ouro com rubis luziam da mesma forma que o colar estranho em seu pescoço. Nos seus dedos, anéis distintos e estranhos.
– Ande, quero mostrar-lhe o lugar antes do poente.
– Certo! – disse, pulando sobre o pequeno riozinho na esperança que sua roupa também mudasse, porém nada aconteceu.
Ao chegar bem no centro daquela pequenina cidade, Oliver percebeu que não havia habitantes por ali, por mais que uma constante sensação de ser observado permanecesse. As casas estavam desertas, assim como as poucas ruas do lugar, mas inúmeras bancas de comida pareciam estar abertas e as casas do local emitiam sons fantasmagóricos de rádios, tevês e outros sons domésticos, como o de tilintares de talheres ou mesmo o ranger de portas.
– Cadê as pessoas que fizeram toda essa comida? – indagou Oliver, aproximando-se de um belo pedaço de rosbife muito suculento, sobre a bandeja do balcão de uma das barracas de comida. – Isso parece bom!
– Não toque em nada por aqui! – advertiu-lhe. – Lembre-se de que estamos num reino da realidade espiritual. Aqui, na forma em que você está, deverá sempre pedir permissão antes de fazer alguma coisa. Também não existem pessoas neste lugar, pelo menos não dentro do seu conceito de pessoas. Você não os vê por que ainda não está preparado para isso. – o mago falava como se estivesse lecionando. – E, se ousar comer isso sem um contrato, será transformado em serviçal para o resto de sua vida, ou simplesmente será devorado em uma refeição dos kampus.
– Parece que não é tão difícil ser devorado por aqui, ein! – Oliver brincou, enquanto o homem pareceu levar a situação muito a sério.
– Essa é a Vila dos Sapos. Temos que atravessá-la para chegar ao lugar que quero lhe mostrar. – Instruiu o mago, caminhando pelo que seria a Rua Principal, esta que se inclinava até o pé de uma escadaria e os levava a uma pequena praça de descanso. No centro havia uma enorme cerejeira florida e, ao redor do local, ruínas que lembravam um templo budista, com inúmeras entidades esculpidas nas muretas. Pequenos bancos de pedra e um grande relógio em forma de torre ficavam por trás da árvore, próximos a um poço abaixo de um grande sino dourado sustentado por duas colunas de madeira, pintadas nas cores verde escuro e vermelho.
Para além do relógio era impossível ver já que uma estranha neblina cobria o que aparentemente seria os limites daquelas terras. Ainda assim, o mago continuou em linha reta, passando pela árvore, pelo sino e pela torre, parando somente quando bem no meio da espessa neblina que inexplicavelmente pairava ali. Oliver o seguia de perto e de repente sentiu o chão mudar. Agora caminhavam sobre madeira. Tombou o corpo mais para o lado, vislumbrou um corrimão e finalmente entendeu que estavam sobre uma ponte. Oliver olhou por cima da proteção para saber sobre o que estava cruzando, mas não conseguiu enxergar nada. Tudo que sabia era que se tratava de uma imensa profundeza e que podia ouvir o som de mar.
– Não vai demorar muito. – Oliver ouviu o mago dizendo.
Após um tempo, notou que a espessa neblina agora estava ficando para trás, revelando o azul pálido de um céu coberto de nuvens que escondiam sutilmente um Sol que agora já não resplandecia como antes. Também pode ver melhor sobre o que a ponte cruzava, e realmente era um mar que dividia a Vila dos Sapos da cidade que ainda haveria de ver.
Ao final da ponte havia uma pequenina e estranha pessoa que lembrava muito um sapo. Tinha pouco mais de 90 centímetros de altura e uma cabeçorra estranha coberta por um chapéu roxo, parecido com um tarbush. Olhos grandes e saltados e narinas minúsculas. A pele era de um tom quase esverdeado. Vestia um robe marrom esfarrapado bem folgado. Segurava em suas mãos, de dedos compridos e alaranjados, uma argola de bambu com balões presos, que em seu interior continha milhares de insetos luminescentes.
– Boa tarde, mestre Kyhien. Faz tempo que não o via! – disse a pessoinha, com um sorriso que ia estranhamente de uma orelha a outra. Seus olhos estreitaram maliciosos.
Kyhien, então, aquele era o nome dele?, pensou Oliver, no mesmo instante em que percebeu que o homenzinho o olhava de modo malicioso e perverso, passando a língua sobre os lábios, desejando-o.
– É um lanche, mestre Kyhien? – perguntou o estranho, cheirando o ar, cada vez mais próximo de Oliver. – Tem boa aparência, mas fede como humano. Vou ter que escaldar… três vezes, penso.
– Não ofenda o aprendiz, Kampu! – repreendeu Kyhien, em tom severo.
– Aprendiz? Um mago, senhor? Com esse cheiro? – Kyhien o reprimiu com olhar maligno, fazendo-o gaguejar de medo e cair de joelhos para reverenciar. – Mil… mil perdões, jovem ma… mago! Não quis ofendê-lo! Desculpe-me, por favor! Aceita um balão como desculpas?
– Não aceite! Venha! Vamos deixá-lo fazendo seu trabalho. – Chamou Kyhien, fazendo um gesto com o braço para o garoto prosseguir, e assim caminharam até que ele parou e disse: – Contemple Malkut, o Mirante do Reino.
Quando a ponte chegou ao fim estavam sob um tipo de mirante ao topo de uma formação rochosa. Tinha a forma de hexágono, com pilares nas pontas, sustentando vigas que se uniam hermeticamente. No chão havia a gravura de uma estrela de seis pontas e ao centro estava plantada uma árvore imponente na cor dourada se estendia a seis metros de altura. A construção se unia a outra, em um nível mais baixo, por uma escadaria que corria por uma falha geológica. Do alto daquela falésia podia ver a cidade de que Kyhien falou e o local era, de fato, a coisa mais extraordinária que alguém poderia ver.
A cidade era formada por um conjunto harmonioso de prédios, praças, pontes, bosques, florestas, campos, córregos, cachoeiras e praias. Era muita informação ao primeiro olhar, mas Oliver captou mais distante uma movimentação intensa de pessoas, exatamente ao centro daquela cidade, onde um gigantesco obelisco, no meio de uma fonte circular, era imponente. Caminharam pela escadaria até o outro nível, onde restava um pequeno pátio com um curioso arco de pedra. Enquanto o atravessavam, Oliver olhou mais atentamente e viu uma meia esfera metálica cravada no cume do arco, como um grande olho, pois no meio havia uma outra bola zumbindo e chiando, parecendo estar seguindo os passos dos dois.
– Isso é um objeto mágico projetado para monitorar a entrada da cidade –. adiantou Kyhien, mas Oliver percebeu o semblante de Kyhien mudar ao notar a insistência da íris em segui-los. – Não dê atenção a isso! Veja, quando descermos até aquelas pessoas, tente não se preocupar com os outros magos. Haja naturalmente, mas fique de olhos abertos quanto aos kampus! Eles não têm ideia do que você é ainda e seu cheiro pode confundi-los com alimento, portanto evite encostar neles.
– Tá falando sério? – Oliver perguntou ao ver que eram muitos aqueles pequeninos, correndo de um lado para o outro, na área central do local. – Isso vai ser complicado!
Quando mal começaram a seguir pelo caminho de paralelepípedos que os levariam até lá, uma garota tão jovem quanto Oliver veio em sua direção, parecendo irritada. Tinha longos cabelos caramelos e lisos que estavam presos por dois pauzinhos, seu nariz era afilado, tinha olhos grandes, amendoados, e bochechas rosadas.
– Mestre Kyhien. – disse em tom elegante ao se aproximar. – Eu o procurei por toda parte. Desculpe vir assim, mas você sabe de minha urgência!
– Olá, Holly, que bom que apareceu! Eu sei, o caso é urgente e prometo que hoje mesmo resolvo, se... você considerar como troca equivalente mostrar a este garotão aqui alguns lugares fora da perturbação do centro! – virou os olhos para Oliver e observou-o dos pés a cabeça, enquanto ele, cada vez mais surpreso, temeu que ela pudesse querer devorá-lo.
– Ótimo! – completou o mago antes que a garota pudesse responder. – Ah, nada de voos por perto das ruínas de Meprata.
– Ah, mas você acha que eu vou perder essa oportunidade? – perguntou ela, sagazmente.
– Não, mas sabe como o velho é! Ah, por favor, leve Oliver até o portal da cidade antes do poente! – pediu Kyhien, que se virou para o garoto e falou: – Nos encontraremos lá!
– Tudo bem, Kyhien! Mas voaremos! – ela respondeu no mesmo instante em que fez um gesto longo com os braços e uma tapeçaria persa em tons de azul e branco surgiu do nada, surpreendendo a Oliver, que ficou maravilhado com o truque. – Vamos, suba! – ela falou após sentar-se naquele objeto que flutuava a cerca de um metro do chão. – Não fique aí parado, se acomode atrás de mim!
Quando se apoiou no objeto e deixou seu corpo se sentar sobre ele, notou que a sensação era de estar sobre um acolchoado de couro. O tapete voou veloz e assim cruzaram toda a cidade rapidamente, contemplando em pouco tempo diversos pontos onde a paisagem era magnífica.
– Essa coisa é incrível! – gritou a certa altura do passeio. – É lindo! Tudo é lindo!
– Diferente, não é? – ela perguntou, entre o vento que rugia sobre seus cabelos que por vezes chicoteava o rosto de Oliver. – Altarys tem um pedaço de cada cidade Magocrata. Veja esses templos, cada um é diferente do outro, e em todos os aspectos. A arquitetura é uma verdadeira mistura artística e de poderes!
Afastando-se do centro, voaram por um campo onde milhares de belas flores exalavam um forte e admirável aroma. Mais adiante havia uma espécie de ruína antiga, que lembrava a Stonehenge, mas tinha um toque menos rústico e ainda estava conservada. Ao longe, em volta do imenso círculo de pedras esculpidas que estava em cima de colossais alicerces, havia outras quatro formações rochosas, cada uma com aproximadamente dez metros de altura, piramidais, e apresentavam desenhos esquisitos com muitos Sóis, Luas, estrelas, pentagramas e outras formas, além de textos quase que indecifráveis. No centro do círculo central havia uma espécie de mesa de granito redonda, onde um pequeno grupo de jovens com robes negros e chapéus cônicos olhavam atentos para algo que um velho, de rosto encarnado, estava a apresentar com notável entusiasmo.
– Vamos chegar um pouco mais perto das ruínas! – pediu Holly em tom altivo.
Oliver lembrou que Kyhien o advertiu sobre algo que lembrava aquilo, mas estava muito curioso sobre o que entreteria tanto aquelas pessoas dispostas ao redor da mesa de pedra. Holly parecia estar ansiosa para mostrar ao garoto, talvez por isso a falta de interesse em outras monumentais construções como uma que vira de relance, embrenhada em uma raquítica floresta que tinha a estranha aparência de um mausoléu muito bonito com um toque tão macabro que causava arrepios.
– O velho mal humorado é Pietro Razgulaeff – falou Holly bem baixinho no ouvido de Oliver quando os dois chegaram ao local. – Ele é o responsável pela reforma da maioria das construções que você viu no caminho. Como você deve saber, Altarys foi a primeira cidade Magocrata, e guerras destruíram muitas obras daquele tempo primitivo. Seu resgate, por fim, marcou o início de uma renovação na Magocracia e um momento de Iluminismo na sociedade humana. Esse velho rabugento aí fez parte desse movimento quando ainda era bem novinho, segundo ele mesmo. Um grande homem, apesar de ser quase um anão.
Oliver não tinha percebido que aquele homem era tão baixo assim, talvez porque ele estivesse sobre uma rocha flutuante misteriosa, dando a impressão de que fosse mais alto. Pietro Razgulaeff era de fato um velho meio torto e muito baixinho, e talvez tivesse nanismo, mas não era difícil que mais novo tivesse tido músculos de aço. Os traços da idade eram fundos em sua pele, o nariz grande lembrava uma batata, seu cabelo parecia uma grande juba vermelha, frequentemente meio escondida sob um estranho capacete de guerra. Tinha a barba ruiva, que ia trançada até sua cintura gorda, e sobrancelhas muito grossas. Estava segurando em uma das mãos uma espécie de clava de madeira rústica, com entalhes profundos feitos em letras finas e muito desenhadas. Oliver imaginou que fosse para castigar os alunos desobedientes.
– Vejam a verdadeira arte da transmutação! – Oliver podia ouvir o velho rugir enquanto Holly continuava. Apontando para o centro da mesa, que parecia ter uma espécie de mini-castelo fundido a ela, prosseguiu: – A dificuldade está na execução dos movimentos, na concentração material dos elementos coordenados com a nitidez da visualização mental prévia.
Ele se esticou para o centro da mesa com dificuldade. Uma vez perto do castelo, murmurou algo enquanto passava a mão pela escultura, e então o castelo de pedra pareceu estar derretendo, diminuindo, até sumir por completo em cima da mesa de pedra, deixando-a completamente plana novamente, quase que polida de tão reluzente que ficou. – Agora, algum voluntário para me mostrar se aprenderam o que viram hoje?
Um garoto branco, de volumosos cabelos negros e de olhar firme e estreito, adiantou.
– Ah, senhor Hellesfeuer! Já era de se esperar que os outros demônios aguardassem por você! Venha! Dê aos seus colegas preguiçosos mais uma demonstração de que dedicação e estudo são caminhos para o brilhantismo. – disse Razgulaeff, ranzinza. – Faça-me uma miniatura complexa, se possível. Mentalize com clareza o que irá nos mostrar e não faça merda.
O garoto deu um sorriso de desdém, se aproximou da mesa, ergueu as sobrancelhas intimidadoras e em seguida fechou os olhos, franziu o cenho, ergueu os dois braços na altura dos ombros e rugiu feroz algo que Oliver não entendeu. Fez um gesto como se estivesse elevando algo muito pesado e centelhas de luzes azuis correram de suas mãos. Cada centímetro erguido com dificuldade fazia a mesa de pedra trepidar e uma estranha formação vinha aparecendo, crescendo com o tom acinzentado da pedra, até que finalmente tomou a forma de um dragão de longas asas e aparência feroz. Era tão real nos seus detalhes que parecia que sairia voando a qualquer instante.
Que lugar é esse? Que gente é essa? Oliver se perguntava abismado
– Muito bom! Ótima transmutação! Leitura perfeita das matérias! E que belo formato! – o velho aplaudia o feito do garoto que, agora relaxando os braços, transmitia um sorriso maligno para os seus companheiros que lançavam olhares decepcionados uns aos outros. – Agora, como lição: quero que peguem uma peça qualquer de seus quartos e façam delas uma arma, o mais complexa possível! Me mostrem ao final da próxima aula e até lá espero vê-los mais entusiasmados. Logo, logo farão leituras genéticas e manipularão estruturas biológicas, isso sim será difícil! Agora, sumam da minha frente, seus bastardos, e boa festa.
Os garotos e as garotas saíram dali como flechas, alguns em seus tapetes, empolgados, comentando sobre o Aeon Arkhe. Falavam a respeito de soltar fogos de dragão enquanto uns armavam explodir ovos esvoaçantes nos kampus bêbedos. Por um momento, Oliver se sentiu em sua antiga cidade. Lembrou-se que quando mais novo saía com os amigos para aprontar alguma com os vizinhos. Porém, nada do que fez na sua infância se compararia a jogar ovos esvoaçantes em alguém. Holly o puxou pelo colarinho e o levou até o velho.
– Uma bela aula para um velho que tava aposentado. – disse ela, se aproximando do homem que a olhou com desprezo. – Aquele garoto está cada vez melhor, não?
– Francamente, o jeito com que aquele pequeno safado olha os outros arrepia até a mim que sou velho e já vi coisas terríveis, haha! – gargalhou o velho, que rapidamente voltou a ficar sério ao observar Oliver, parecendo desconfiado. – Quem é este pivete aí com você?
– Está com Kyhien, acho! – ela olhava carinhosamente para o garoto.
– Criança de Melkior… Agora entendo por que aquele “Mago Negro” cruzou comigo às pressas outro dia. Falou malmente sobre um caso raro na magia e saiu sem dar mais explicações aos colegas na mesa do conselho – ele murmurava ao que se aproximava de Oliver, seu hálito quase matando o jovem. – Não me parece um caso raro, mas sinto… oh… uma grande Aeon Aura… estranho… não é como um mago... Provavelmente porque se retraiu para o fluxo mágico! Sim, é isso! Nunca vi algo assim antes e olha que sou muito velho! – sorria sobre sua pedra flutuante, fazendo novamente o movimento capaz de restaurar a mesa de pedra. – Eu vou indo! – rugiu, pegou alguns livros velhos em cima de uma formação rochosa e saiu vagando em seu rústico e voador veículo. Juntos, acenaram para o velho que partia em meio ao campo ali próximo. Foi quando Holly pareceu assustar-se ao olhar novamente para Oliver.
– Você está virando uma sombra, notou? – perguntou, parecendo indiferente.
– Como é que é?! Minha nossa! Eu... tô refletindo! Quê isso?! – Oliver se assustou ao perceber que suas mãos estavam gradativamente espelhando o lugar a volta, mimetizando o ambiente enquanto perdia sua própria silhueta.
– Então, será que é por isso que Kyhien alertou sobre o poente? Nossa! Você realmente não parece pertencer a este mundo. Isso é incrível... eu também nunca havia visto isso antes!
– Sério? Te garanto que eu também não! – Oliver olhou para o céu em busca do Sol que já partia. – Já vi que não tem limites pro que acontece aqui! Por favor, eu não quero virar um espelho, me leva agora!
– Calma, você vai ficar bem. O tapete pode voar ainda mais rápido! – Holly invocou seu tapete, entusiasmada. – Ande, não quero receber um esculacho de Kyhien! Nem pensar! Segura aí!
Absurdamente rápidos, os dois chegaram na ponte bem em cima da hora. O Sol lançava seus últimos raios e, para alívio de Oliver, que via seu corpo cada vez mais refletivo, Kyhien chegou alguns minutos depois deles e os tranquilizou. Oliver se despediu de Holly, que lhe deu um beijo na bochecha e disse algo parecido com até mais. Infelizmente ele já estava quase como um espelho completo e mal pode sentir o calor dela. Kyhien voltou a lhe guiar. Passaram pela ponte, pela vila, pelo grande portal do túnel e logo estavam no carro do mago. Para seu alívio, seu corpo voltava ao normal.
Logo chegaram na cidade, afinal Kyhien não respeita lei nenhuma de trânsito. Some isso aos sinais sempre ficando verdes quando ele estava passando pelos cruzamentos e estava explicada a tensão de Oliver que não dava um pio sequer. O silêncio só cessou quando haviam chegado à porta da casa do garoto.
– Deve estar se perguntando sobre o que viu. – previu o mago, em tom sonhador, ao que olhava para o teto solar do carro que revelava um céu arroxeado. – Vou lhe dizer: essa súbita compreensão que explodiu em sua mente nunca mais irá desaparecer. Você vai querer buscá-la o tempo todo. Rebeldia é o que inspira e guia os seres da magia.
– Isso vai ser meu futuro? É que... parece muito surreal. – Oliver perguntou, olhando agora para a porta de sua casa, imaginando se aquele homem pudesse ler a sua mente. – Digo, daqui a pouco vou estar como aqueles jovens nas ruínas? Aprendendo aquilo?
– Magia? Sim! Você fez sua escolha. Adapte-se a isso – respondeu. – Você acaba de entrar em um mundo muito maior e sair dele pode não ser mais uma opção.
– E o que acontecerá com minha vida aqui? Digo, aqui mesmo, nessa terra? – indagou após pensar em Cabo Branco e seus amigos que lá viviam e principalmente em Júlia. Começava timidamente a enxergar aquilo como uma oportunidade de tirá-la daquela condição, afinal, se houvesse uma oportunidade de ajudá-la, ele faria.
– Você é quem decidirá com o decorrer do tempo. Exigirá sabedoria e, acima de tudo, maturidade. Bom, eu sei que não possui um conjunto completo, mas tenho certeza de que saberá fazer a escolha certa. Magia é um dom de caridade. Fuja das intenções egoístas. Se motive pelo o que julga ser correto. Com esse coração bom, você pode ir longe se não for devorado antes. – Fitou o garoto de modo que pareceu contente.
Oliver abriu a porta do carro e saiu inexpressivo. Motivar-se por Júlia era caridade ou egoísmo? Expandiu levemente o portão de sua casa e esperou por um momento que aquele homem lhe falasse algo a mais sobre onde eles se encontrariam, se é que se encontrariam de novo, porém o homem nada disse, exceto a expressão: “Não dê atenção a estranhos e muito menos convide um a entrar na sua casa”. A porta do carro do lado em que o garoto estava fechou-se e o carro arrancou, sumindo na esquina e deixando Oliver com ainda mais perguntas sem respostas.
– Não falar com estranhos?! Então é isso?!